A pressa e a negligência são como aquelas duas amigas que sempre nos colocam em encrenca. Uma vive de salto alto, correndo atrás do tempo como se fosse maratona, tropeçando em tudo — inclusive em nós. A outra, de pantufa, convida pra “só mais cinco minutinhos” no sofá e, quando vemos, a vida passou, o café esfriou e o prazo venceu.
A pressa nos ilude com o discurso da produtividade. Promete que, se corrermos bastante, conquistaremos tudo antes dos outros. Mas não diz que, ao correr sem preparo, podemos cair no meio do caminho. E o tombo da pressa é sempre mais dolorido, porque geralmente acontece quando estamos tentando provar que damos conta de tudo.
Já a negligência tem um jeitinho mais sorrateiro. Sussurra que está tudo bem em adiar, que o mundo pode esperar, que merecemos descanso, mesmo sem esforço. Nos convence a silenciar alarmes, ignorar sintomas e adiar conversas. E, quando nos damos conta, ela não só tomou conta do sofá, levando também nossa disciplina, nossos planos e o entusiasmo.
Somos mestres em aceitar esses convites disfarçados de autocompaixão ou eficiência, sem questionarmo-nos da qualidade destes tipos de comportamento.
Não se trata de viver como um robô cronometrado, tampouco como uma samambaia no canto da sala. Trata-se de dosar ritmo e pausa. De saber quando acelerar e quando respirar. Quando agir e quando observar. E isso, vamos reconhecer, é uma arte que se cultiva com prática, não com urgência ou preguiça.
Um ótimo exercício de gestão dos nossos impulsos.
