A personalidade é um jeitinho esperto que o cérebro inventou pra montar figurinos do cotidiano

A personalidade é um jeitinho esperto que o cérebro inventou pra montar figurinos do cotidiano, fazer amigos e não ficar de fora da tribo, mesmo que, por dentro, a gente só queira usar chinelo e falar a verdade.

 

A palavra “persona” tem uma origem curiosa. Vem do latim e significava, originalmente, a máscara usada pelos atores no teatro antigo. Com o tempo, esse acessório simbólico transformou-se em algo mais profundo: a maneira como nos apresentamos ao mundo, nosso papel social. Dessa origem, nasceu também o termo “personalidade”, que remete à forma como nos comportamos diante dos outros — um repertório de atitudes moldado pela necessidade de sermos aceitos.

A personalidade, portanto, não é apenas um reflexo espontâneo de quem somos. Ela é uma construção cuidadosa, uma ferramenta psíquica que utilizamos para nos proteger, nos conectar e garantir pertencimento. Está sempre operante, ajustando gestos, palavras e posturas para nos encaixarmos em diferentes contextos. Somos seres sociais — e, como tal, aprendemos a nos moldar constantemente.

Esse esforço de adaptação não é exclusivo dos humanos. Leões, chimpanzés e hienas também seguem complexos códigos de conduta dentro de seus grupos. A busca por proteção, parceiros confiáveis e status social é um instinto compartilhado. Mas há uma diferença fundamental: esses animais não vivem sob o peso das expectativas externas como nós, nem precisam de terapia para lidar com frustrações e rejeições.

Nosso dilema é justamente esse: tentamos corresponder ao que os outros esperam, mas nunca é suficiente. Por mais que nos esforcemos para agradar, haverá sempre alguém insatisfeito. As expectativas alheias são insaciáveis. E, muitas vezes, ao perseguir aceitação externa, acabamos nos distanciando de nossa própria essência.

No fundo, tudo se resume a uma dinâmica ancestral: queremos ser vistos, valorizados e protegidos. A personalidade é uma de nossas estratégias para sobreviver nesse jogo social. Mas talvez a grande virada esteja em compreender que não é necessário agradar a todos — basta sermos leais àquilo que, de fato, somos.

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Conheça o Jojo

Filósofo nas horas vaga, tem uma curiosidade inata pelo comportamento humano, realizando paralelos muito instigantes entre o ser humano e a evolução das espécies, tema sempre muito presente em todas as suas palestras e cursos, e muito apreciada pelo seu público.

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