Consewlheiro & Palpiteiro

Sou grato pelos inúmeros convites para atuar como Conselheiro. Mas, confesso que sinto-me mais à vontade no papel de palpiteiro.

Há quem ofereça conselhos como se estivesse entregando relíquias sagradas. Voz grave, olhar solene, e aquele ar de quem acaba de receber uma revelação do além. Mas sejamos francos: por trás de todo esse teatro, há apenas um palpite — arrumado, barbeado e trajando fraque.

A diferença entre um simples palpite e um conselho pomposo, muitas vezes, está no tom de voz e na embalagem. O palpite vem descalço, espontâneo, talvez até um pouco atrevido, descompromissado. O conselho chega com sapatos engraxados e palavras medidas, lhe conferindo, muitas vezes, uma autoridade sobrestimada.

Talvez o mais curioso seja a facilidade com que o conselho se oferece. Hoje temos conselheiros para todas as áreas da vida — alguns autoproclamados especialistas, outros simplesmente entusiastas da vida alheia, e outros tantos, claro, de meritória autoridade. E uma boa parcela, prontos para distribuir suas perspectivas como se fossem moedas de ouro, sem que ninguém lhes pedisse opinião. No fundo, continuam sendo palpites — apenas com gravata borboleta.

Não que um palpite elegante seja inútil. Ou que um singelo conselho não se valha. Muitas vezes, eles inspiram. Noutras, provocam. E, quando dados com afeto e respeito, podem até iluminar um caminho. Mas é sempre bom lembrar: nem todo traje de gala carrega sabedoria. Às vezes, é só vaidade disfarçada de virtude.

Mas como sempre, este é apenas um ponto de vista. Há muito mais entre o Céu e a Terra.

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Conheça o Jojo

Filósofo nas horas vaga, tem uma curiosidade inata pelo comportamento humano, realizando paralelos muito instigantes entre o ser humano e a evolução das espécies, tema sempre muito presente em todas as suas palestras e cursos, e muito apreciada pelo seu público.

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