Descobriram que os chimpanzés também fofocam. E eu, ingênuo, acreditando que a fofoca era a mais irresistível e exclusiva invenção humana.
A fofoca é uma das formas mais antigas de conexão social. Antes mesmo de existir a linguagem escrita, nossos ancestrais já cochichavam ao pé do fogo. Era uma maneira de proteger o grupo, de identificar comportamentos duvidosos e, claro, de se manter atualizado. Em pleno século XXI, o ritual persiste — só que trocamos as fogueiras pelo WhatsApp.
Sussurrada, íntima, privada, ela permeia todos os locais e tribos, incluindo os suntuosos encontros de Estado, passando pelas mesas de almoço e jantar, grupos de mensagens, reuniões de trabalho e as despretensiosas mesas de botequins.
Mas o que torna a fofoca é tão irresistível?
Porque ela é humana, nos conectando. E porque, cá entre nós, é uma forma de investigação antropológica informal. Fofocar é mapear o território emocional dos grupos que compartilhamos, como a família, amigos, possíveis parceiros de negócios, companheiros de bar ou colegas de trabalho.
Através dela, sabemos quem está em crise, quem superou um obstáculo, quem está devendo na praça, quem voltou com o ex (e por quê). São dados emocionais, que nos ajudam a fluir através destas várias agrupamentos sociais com mais empatia e desenvoltura, reforçando nossos vínculos afetivos.
Claro, existe a fofoca tóxica, maldosa, que escorre feito veneno pela língua dos amargurados. Essa deve ser evitada com a mesma energia com que evitamos fila de supermercado às 18 horas. Mas há também a fofoca afetuosa, a que nasce da expectativa de entender o outro, de se importar. A fofoca que, no fundo, é só a curiosidade de saber como a vida tem tratado aqueles que fazem parte do nosso mundinho.
Se você ainda está torcendo o nariz, pense comigo: já percebeu que é impossível fofocar sozinho? Pois é. A fofoca exige companhia. Ela convida ao encontro, à escuta, à risada. É o aperitivo social da conversa. Aquele instante em que quebramos o gelo e humanizamos a rotina.
E, como tudo na vida, há uma escolha embutida: você pode usar a fofoca para ferir… ou para unir. Pode transformá-la em julgamento, ou em compaixão disfarçada.
Portanto, da próxima vez que ouvir alguém dizendo “sou contra a fofoca”, observe com ternura. Porque, no até essa frase é uma… fofoca disfarçada.