Cesar Milan, o encantador de cães, em seu programa de televisão, nos demonstra claramente que não existem cães neuróticos, mas cuidadores neuróticos.
Ao retirar os cães supostamente desajustados, do convívio com os donos e os coloca em sua clínica, coexistindo com duas dúzias de outros cachorros, invariavelmente em dois dias, aqueles voltam a ficar ajustados, equilibrados.
Para mim, fica claro que o problema não são os caninos, mas o ambiente de convivência.
O mesmo vale para nós, humanos. Somos a média da qualidade das pessoas com quem convivemos.
Se a atmosfera de trabalho é integrada por uma maioria de indivíduos apenas medianos, sem iniciativa, sem espírito de inovação, de valores rígidos ou indolentes, independentemente de quanto talentosos, inovadores, criativos e disciplinados sejamos, com o tempo, reprisaremos o modelo do grupo: tornaremo-nos medianos.
E o mesmo vale quando um grupo de amigos, familiares, parceiros de trabalho é inspirador: moveremo-nos para o nosso melhor.
O que precisamos compreender é que, para o bem ou o mal, os ambientes que elegemos conviver, com o passar do tempo, sempre modelarão o nosso comportamento.
Aos dezoito anos, fiz um concurso e tornei-me funcionário público federal. Passado uns dois anos, ficou claro para mim que aquela modalidade laboral não me servia. Porém, com havia uma boa compensação financeira e um futuro aparentemente seguro, refleti bastante por quase mais um ano até tomar a decisão de sair da atividade pública.
Uma vez decidido, informei aos meus pares de trabalho do que havia definido. Foi um alvoroço! A partir daquele dia, todos os dias formava-se uma procissão em minha sala para dissuadir-me de largar aquele trabalho.
– Joris, pensa no futuro. Aqui estás seguro.
– E a aposentadoria, Joris! Mais trinta e cinco anos e poderás começar a
viver!
Lembro-me que em um fim de semana, organizaram um almoço, da qual participaram todos os companheiros de trabalho com o foco único de fazer-me desistir.
Além disso, havia a pressão de outro grupo, o familiar, gerando muita pressão para eu abandonar a ideia de demitir-me. E mais os meus amigos também tentando argumentar.
– Ninguém faz este tipo de coisa, Joris!
Diante de tanta pressão, vinda de tantos ambientes diferentes, duvidei da minha decisão.
– Todos são contra. Eu devo estar equivocado – pensei. E desisti de largar daquele trabalho que tanto desagradava-me.
Passou-se mais um par de longos meses de frustação e infelicidade, e novamente senti o impulso de pedir demissão. Porém agora já estava escaldado. Não informei para nenhum dos grupos: nem amigos, nem família e muito menos os pares de ofício.
Simplesmente sumi. Nunca mais pus os pés naquela repartição pública. Afastei-me dos amigos por um tempo e da família. E fui atrás dos meus sonhos. Sábia decisão.
Grupos tais como a família, trabalho, amigos, clube, religião etc, tem como característica comum adotar e manter um determinado corpo de crenças e hábitos que acabam por influenciar e induzir seus membros a pensar, sentir, comunicar de uma maneira padrão, segundo seus mitos compartilhados.
Quanto maior o número de integrantes, maior o impacto e influencia sobre o comportamento de cada um deles. E daí, se algum membro apresenta uma maneira de agir ou pensar diferente, a força de coesão destes agrupamentos, denominada egrégora, pressionará sempre aquele indivíduo a desistir da conduta distinta e abraçar o modelo comportamental preconizado.
É impossível confrontar estas forças coletivas. Aceitamos seus valores ou trocamos de egrégora.
– Com quantas pessoas inspiradoras você convive? Levar muito tempo para lembrar não é o melhor sinal.
Sempre seremos influenciados e moldados pelas confrarias que escolhemos, introjetando e automatizando crenças coletivas. Então, que selecionemos tribos inspiradoras, que reúnam valores interessantes, instigantes e que, preferencialmente, gostem e estimulem seus membros a adotarem a mudança, a reflexão e o novo.
Ou estaremos fadados à uma visão e experiência mediana, quase medíocre do nosso cotidiano. E isso é morrer em vida.