É no corpo onde habitam todos os desafios que nos impede de alcançar a meta, mas é esse mesmo corpo que utilizaremos pra transcendê-los e atingir há tão almejada a liberdade.
É no corpo que começa a grande travessia. Não o corpo idealizado pelas academias, nem aquele submetido às modas passageiras. Falamos do corpo real, herança de nossos antepassados mamíferos, moldado por milênios de instinto e sobrevivência. Ele busca conforto, comida, segurança e reconhecimento. Sua lógica é a da conservação: evitar riscos, repetir padrões, manter-se vivo. Mas viver não é apenas sobreviver.
A vida cotidiana nos condiciona. Acordamos, produzimos, cumprimos papéis, desejamos o que todos desejam. O corpo, atento a esse ritmo, adapta-se: acorda tenso, caminha automático, respira curto. Não porque esteja “errado”, mas porque aprendeu assim. Reflete os valores sociais que o cercam — competição, status, urgência. E nessa dança silenciosa com o mundo, muitas vezes nos afastamos de algo essencial.
Porque, neste mesmo corpo que repete o ontem, dormem forças ancestrais. Uma vitalidade pura, um brilho que pulsa sob a pele, aguardando ser chamado à superfície. O Yôga não inventa essas energias — revela o que já nos pertence. A prática desperta o que está em nós: disciplina, foco, sensibilidade, potência. O corpo deixa de ser apenas uma resposta ao ambiente e passa a ser um instrumento de expansão.
É pelo corpo que acessamos o que está além dele. Pela respiração, pelo domínio dos sentidos, pela expansão da percepção, cruzamos as fronteiras da mente condicionada. O corpo, antes limitado ao instinto, abre-se à consciência. Não se opõe à liberdade — torna-se o veículo por onde ela se manifesta.
Liberdade, nesse contexto, não se confunde com fuga ou ausência de limites. Ganha contornos mais amplos. Passamos a agir sem estarmos presos às reações automáticas, às demandas do mundo ou aos comandos internos do medo. O corpo desperto torna-se espelho de um outro estado: mais lúcido e potente.
E assim seguimos. Conscientes de que é nesse território concreto e pulsante — o corpo — que começa o movimento em direção a tudo aquilo que aspiramos ser. Não fora dele. Mas através dele.


