Apesar de soar como uma contradição, a verdade é que ego e altruísmo podem perfeitamente serem cúmplices, dividindo méritos, ao dedicarmo-nos a propósitos virtuosos.
Durante séculos, nos fizeram acreditar que, para sermos bons e generosos, precisaríamos trancar o ego numa jaula e jogar a chave no fundo de algum rio caudaloso. Mas não é bem assim. O ego não é um vilão — a não ser quando sua necessidade de reconhecimento ultrapassa o bom senso. Aceitemos que ele é apenas a parte de nós que gosta de ser aceita, de ser útil, de ser amada.
Na nossa percepção, não há nada de errado em querer ajudar alguém e, de quebra, sentir-se bem por isso. O problema nasce quando confundimos altruísmo com abnegação absoluta, como se todo gesto gentil só fosse válido se viesse embrulhado em um papel rustico sofrimento.
Ser altruísta com consciência do próprio valor não diminui o gesto. Só o engrandece. É como dedicar-se a edificar uma obra social importante, e gostar de imaginar que esse alguém talvez diga: “Quem fez isso devia ser um baita ser humano.”
Portanto, paremos de tentar aniquilar o ego em nome da elevação do espírito. Façamos as pazes com ele, convidando-o para um café, negociando limites, e depois, juntos, saiamos para praticar o bem. Nenhum mal existe se o ego quer a medalha, desde que nos ajude a realizar coisas nobres.
No fim das contas, o que o mundo precisa não é, sempre, de heróis sofridos, mas também de pessoas como eu e você, fazendo o bem. E se isso incluir uma pitada de vaidade bem resolvida, que avancemos em mudar o mundo.
Ego e altruísmo não são inimigos. Podem e devem serem parceiros de crime… do bem.
