Em todos os procedimentos, evite os extremos. Habitue-se a enxergar que entre o oito e o oitenta há mais de setenta alternativas.
A frase do Professor DeRose traz em si uma elegante reflexão sobre o extremismo.
Vivemos em uma era de extremos: ou tudo é certo ou tudo é errado, ou admiramos ele ou aquele com fervor ou os cancelamos com fúria desmedida. Mas a vida, essa mestra mais do que maleável, prefere quase sempre resolver do que espernear.
Entre a pressa do oito e a ansiedade do oitenta, existe o conforto dos sessenta e sete.
Imagine uma pessoa que, ao fazer dieta, decide cortar todos os prazeres da vida. Vira radical: sem açúcar, sem glúten, sem vida social. Três semanas depois, está devorando um pote de sorvete às escondidas, culpada e infeliz. E se, ao invés disso, ela tivesse encontrado o ponto trinta e nove? Aquele onde se saboreia uma fatia de bolo no aniversário, mas se escolhe a salada no dia seguinte? O diabo é que estabilidade, recorrentemente, não brilha nas redes sociais, porém refulge na fleuma das nossas eleições.
Esse olhar mais amplo, entre o oito e o oitenta, exige treino. Vivemos imersos no “ou vai ou racha”, “ou estou certo ou sou um fracasso”. Definitivamente, não me parece uma forma inteligente de estar no mundo. Viver é como uma escada de madeira antiga: não se escala aos saltos, mas degrau por degrau. E cada um deles é uma alternativa, uma chance de escolher com mais consciência. O bom senso raramente mora nos extremos — ele prefere a esquina das possibilidades.
Até onde entendo as coisas, há muitos caminhos entre a rigidez do oito e a loucura do oitenta. E, nesse intervalo mágico, habitam alternativas que constroem uma vida menos vulnerável, mais lúcida, mais com a nossa cara.