É engraçado como o manual da vida alheia parece sempre mais simples. O amigo indeciso sobre o próprio relacionamento conjugal sabe exatamente quando nós deveríamos terminar o nosso. Aquela outra, com quem compartilhamos confidências, que troca de emprego como quem troca de marca de pasta de dente, tem certeza absoluta de que você devia “estabilizar-se”. E o primo que nunca conseguiu seguir uma rotina é o primeiro a dizer que nós precisamos “de mais disciplina”.
Surpreendentemente, estas dicas vêm sempre embalados com uma pitada de sabedoria universal e uma tonelada de convicção. Quando tentamos argumentar, nos olham com aquele ar de compaixão — como se disséssemos que pretendemos atravessar o oceano a nado, quando bastava pegar um táxi. Claro, que a intenção é quase sempre boa. No fundo, o oráculo amigo torce por nós. Principalmente se seguirmos o roteiro perfeito que escreveu em sua mente.
A vida real, no entanto, não segue o script das opiniões alheias. Ela dança conforme o ritmo interno de quem a vive. E se há uma verdade nisso tudo, é que ninguém sabe o que faria no nosso lugar até calçar nossos sapatos — de preferência, depois de uma boa caminhada neles.
Até lá, sorrimos, acenamos… e seguimos fazendo o que a nossa experiencia e intuição nos dita.