Nada mais democrático do que o relógio: oferece 24 horas a todos, sem exceção. A tragédia ou a glória está no que decidimos fazer com elas.
Nada mais igualitário que o tempo. O relógio não julga, não favorece, não discrimina. Entrega 24 horas a todos, ricos e pobres, gênios e distraídos, santos e canalhas. É a única moeda que não aceita suborno. E, curiosamente, é também a mais desperdiçada.
Se tempo fosse dinheiro — como tanto se repete — haveria um rastro de falências existenciais espalhadas por aí. Gente que torra horas como quem acende charutos com nota de cem, achando bonito. Outros, mais econômicos, guardam o tempo como se fosse comida enlatada para o fim do mundo, mas esquecem de abrir as latas.
O drama não está na contagem das horas, mas no que fazemos com elas. Uns mal acordam e já começam a correr atrás do próprio rabo — cronometrando tarefas, engolindo cafés e engarrafando sonhos. Outros, em contrapartida, acordam apenas porque o despertador insiste, e passam o dia inteiro em piloto automático, como se viver fosse um ensaio para algo que nunca chega.
Curioso pensar que o tempo é o mesmo para quem constrói catedrais e para quem assiste a maratonas de séries em looping. A diferença? Está na direção do olhar. Tem gente que olha para o relógio e vê um lembrete da morte. Outros veem um convite para viver com mais intenção.
A verdade é que o tempo não falha. Somos nós que tropeçamos no uso dele. E quando a gente diz “não tenho tempo”, o que se quer dizer é: “isso não é prioridade para mim”. Dói, mas liberta. Porque uma vez que entendemos isso, podemos finalmente assumir o leme da nossa agenda — e da nossa vida.
E é bom lembrarmos que o tempo é o único recurso que nunca poderá ser reembolsado.
