O novo nos encanta na vitrine, mas apavora quando bate à porta.

O  novo nos encanta na vitrine, mas apavora quando bate à porta. Por isso, ao inovar, convém vestir o novo com as roupas discretas do velho. Ou arderemos na fogueira do hábito.

Inovar é, antes de tudo, um ato de coragem disfarçado de curiosidade. Nós, seres gregários e vaidosos, passamos a vida proclamando nosso amor pelo novo, mas, no fundo, tememos qualquer movimento que ameace a ordem confortável que construímos com tanto zelo. Qualquer proposta fora do script é recebida com sobrancelhas arqueadas e um leve recuo de quem já pressente a heresia. O novo nos encanta na vitrine, mas apavora quando bate à porta.

É que, nos bastidores da convivência, existe um pacto silencioso: não perturbar o equilíbrio. Ainda que ele seja frágil, disfuncional ou até mesmo sufocante, ele é conhecido, previsível, e, portanto, controlável. Ao surgir uma ideia fresca, inquieta, logo nos organizamos — ainda que inconscientemente — para desacreditá-la. Não por maldade, mas por instinto. O grupo sempre defenderá sua zona de conforto com unhas afiadas e argumentos irrefutáveis.

Nós, os bem-intencionados rebeldes, precisamos reconhecer esse jogo. Não basta ter uma boa ideia — é preciso saber embalá-la. Se o novo chega gritando, será tachado de perigoso; se chega sorrindo, disfarçado de velho conhecido, pode até ser bem-vindo. Por isso, ao inovar, convém aprender a arte da camuflagem: apresente o inédito como se fosse um retorno às origens. Funciona. A história nos mostra que as revoluções mais bem-sucedidas souberam parecer reformas.

Ou seja: pura inteligência social.

Claro que haverá quem resista até o fim. Faz parte do processo. Toda inovação incluirá sempre de um pequeno grupo de corajosos e uma maioria cheia de suspeitas. Mas, com gentileza estratégica e paciência militante, nós conseguimos avançar. Um passo de cada vez, sem assustar demais, mas sem recuar jamais.

No fundo, não se trata de mudar o mundo com estardalhaço, mas com elegância, fineza e persistência inabalável. Com o tempo, mesmo os mais céticos, valorizarão e abraçarão como parte dos valores tradicionais o que viam apenas como ameaça.

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Conheça o Jojo

Filósofo nas horas vaga, tem uma curiosidade inata pelo comportamento humano, realizando paralelos muito instigantes entre o ser humano e a evolução das espécies, tema sempre muito presente em todas as suas palestras e cursos, e muito apreciada pelo seu público.

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