O Yôga quer mover o sádhaka para além da humanidade, pois em síntese, esta encobre, com sua natureza instável, mutável, a realidade última, imutável.
A proposta do Yôga, segundo eu alcanço, não é simplesmente aprimorar a condição humana — é transcender essa condição. O sádhaka, o praticante dedicado, é impelido a romper os limites da existência ordinária. Vai além dos desejos, das angústias e das flutuações emocionais que tanto caracterizam a vida comum. Não se trata de negar a humanidade, mas de superá-la, como quem sobe uma montanha e, ao atingir o cume, contempla não apenas a paisagem, mas uma nova perspectiva de si mesmo.
A nossa humanidade, é naturalmente instável. Mudamos de humor, de opiniões, de vontades. Tudo o que hoje encanta, amanhã pode entediar. Essa volatilidade, embora natural, cria véus — camadas que ocultam algo mais profundo. A essência não muda, mas está constantemente coberta por essa dança de incertezas. O Yôga surge como um método para rasgar esses véus, dissolver os ruídos, abrir passagem ao que é permanente.
Ao se mover além da humanidade, o sádhaka não se torna desumano, mas alcança uma forma de consciência em que, progressivamente, deixa de se identificar com o passageiro. A realidade última — que o Yôga aponta como sendo imutável — não está sujeita a altos e baixos. Ela não é afetada por perdas, vitórias ou opiniões. É um estado de ser que pulsa em silêncio, intocado pelo tempo, indiferente às flutuações da mente.
Essa jornada exige coragem, disciplina e o exercício contínuo do desapego. Porque tudo o que é mutável , precisa ser reconhecido como transitório. E, ao invés de se apegar ao que passa, o praticante aprende a se assentar no que permanece. Assim, o Yôga se revela não como uma prática de fuga, mas como um retorno à essência. Uma travessia da ilusão para a lucidez. Do transitório ao eterno.