Não me crucifique, chamando-me de materialista insensível, antes de ler!
Nossa frase toca em um ponto sensível da vida contemporânea: a romantização excessiva da experiência em detrimento do merecido reconhecimento material. E aqui cabe uma reflexão: até que ponto estamos dispostos a trocar nossa energia vital apenas por vivências, enquanto a conta de luz continua chegando?
Vivemos tempos em que o discurso motivacional se apropriou da ideia de que “dinheiro não é tudo”. E é verdade. Mas também é verdade que se o dinheiro não traz felicidade, paga tudo o que ela gasta. Parece-me que experiências sem um justo retorno vira exploração disfarçada de oportunidade.
Quem nunca ouviu aquele convite tentador: “É um projeto incrível, você vai ganhar muita visibilidade!”? A frase em questão é uma resposta espirituosa e assertiva a esse tipo de proposta: “Tudo bem, eu entendo o valor da experiência… mas valorizo, também, o meu tempo e minha entrega. E isso se paga.” Não é ganância. É maturidade.
A experiência é, sim, um valor. Mas ela não pode ser usada como moeda para mascarar a ausência de reconhecimento. Quando alguém trabalha, se dedica, entrega talento e competência, merece ser recompensado de forma justa. A experiência que não se converte em autonomia e dignidade não é experiência: é desgaste. Ou exploração!
Você pode até considerar-me frio ou materialista, mas a ideia aqui é um chamado à responsabilidade. Quem entende o valor do próprio tempo sabe que ele é um recurso não renovável. E que, portanto, não pode ser negociado a preço de vitrine de liquidação.
Há nobreza em saber dizer “sim” às boas experiências. Mas há sabedoria em saber quando dizer “sim… mas quanto é o cachê?”
Portanto, se temos algo a oferecer ao mundo, que não tenhamos medo de valorizar-nos. Experiências enriquecem, mas temos que pagar os boletos. E a sensatez entre propósito e remuneração é um dos sinais mais claros de maturidade emocional e profissional.
Mas como sempre, é apenas uma perspectiva. Há muito mais entre o Céu e a Terra.