Meu banheiro gerou um vazamento e a minha vizinha do andar de baixo reclamou que estava pingando no teto do banheiro dela. Seu nome é Eloá: baixinha, morena, gaúcha, com aproximadamente uns 50 anos e mora sozinha.
Tem o hábito de conversar com a vizinha de porta, e quando isso acontece todo o prédio acaba sabendo, tal a animação e o volume com que dialogam. Quando soube do vazamento, imediatamente desci ao seu andar para tranqüilizá-la.
– Olha, Eloá, já contatei um encanador que virá amanhã. É importante que estejas em casa para que ele possa dar uma olhada e tentar fazer um diagnóstico – comentei com ela.
– Não vai dar, Seu Jojó, pois estou viajando hoje a noite, e não terá ninguém para abrir a porta para o encanador amanhã.
– Sem problemas, Eloá. Deixe a chave comigo que eu abro para ele. Fique tranqüila que não roubaremos nada – respondi sorrindo.
– Deus me livre! – retrucou ela – Desde que meu marido me traiu, há vinte anos, que não confio em mais ninguém.
– Vinte anos, Eloá? Está na hora de achar um namorado – contestei, com uma risada.
– Por acaso, estás insinuando que é falta de…- contrapôs a vizinha, indignada, já com as mãos na cintura.
Percebendo que minha amiga era um tanto quanto ranzinza, me despedi, liguei para o encanador e ficamos aguardando-a voltar de sua viagem.
Duas semanas depois, volto a tocar o interruptor do apartamento da vizinha.
– Bom dia, Eloá. Como está o nosso banheiro? Continua pingando?
– Continua, Seu Jojó. É emocionante sentir um pingo na minha cabeça, toda a vez que preciso sentar no vaso sanitário. – comenta ela, com caras de poucos amigos.
– Então, estou subindo. O encanador vem amanhã pela manhã, Eloá. Tomarei um banho agora e fecharei o registro, para que não te incomodes por enquanto.
– Ótimo! Mas não esqueça de lavar bem, hein? – rebateu a vizinha, com um meio sorriso e olhando para a minha cintura.
Arregalei os olhos com tanta intimidade, virei-me sobre os calcanhares e subi rapidinho para o meu apartamento.
Alguns dias depois, o encanador concertou o vazamento e horas depois, desci para contar-lhe a boa nova
– Bom dia, Eloá. O encanador fez o serviço no meu banheiro e me orientou para deixar secando por 48 horas.
– Se quiseres, podes tomar um banho aqui, Seu Jojó.
– Agradeço muito, mas tomarei meus banhos na casa de minha namorada – respondi rapidamente.
– Eloá, por acaso podes me passar o número do teu telefone? Assim posso te ligar para saber se o trabalho do encanador ficou bem feito, e não continua vazando no teu banheiro.
– Sem problemas, seu Jojó. Espere só um instante, que vou pegar o número no meu caderno.
– Não saber o número do teu telefone residencial, Eloá?
– Para que? Eu não ligo para mim.
E assim, eu e Eloá vamos vivendo. Cada um em seu apartamento. E eu passando o ferrolho. Afinal, nunca se sabe…