Até onde alcanço, sempre existirá uma defasagem entre o que esperamos que seja a nossa vida e o que a existência consegue nos entregar.
Quanto maiores as expectativas em relação a todo e qualquer evento ou pessoa, seja a carreira profissional, um grande amor, amigos, família, saúde, sucesso etc, maiores serão as chances de sentirmo-nos frustrados, pois a vida não está focada nas nossas expectativas.
Esta inevitável defasagem, onipresente, predispõe a olharmos as nossas conquistas profissionais, afetivas, intelectuais, existenciais etc, como se nunca fossem o suficiente. É uma perspectiva, que se não for compensada com uma outra visão, a do quanto somos abençoados e felizes pelo que já conquistamos, promoverá um cotidiano exageradamente decepcionante.
Isto jamais deverá ser traduzido por uma resignação, conformação e deixarmos de focar em nossas ambições. Pelo contrário. Buscar a realização dos nossos sonhos é mais do que meritório e motivador.
Porém, a valorização do cotidiano, que é o lugar no qual passamos grande parte da vida, com suas rotinas, olhando-as como pequenas dádivas, como uma manhã de sol, uma boa comidinha, um café na cama, o olhar das pessoas que amamos, uma noite de doces carícias, os sons dos nossos familiares acordando e deixando a nossa casa cheia de vida, o prazer de um dia de trabalho totalmente novo pela frente, o encontro com um amigo querido, o cansaço do fim do dia, do dever cumprido, ou nosso cãozinho ou gatinho que nos vem receber a porta, na minha opinião, precisam contrabalançar o quanto ainda nos falta, até porque talvez, esta defasagem jamais seja preenchida. Nós nunca saberemos. Só poderemos fazer a nossa parte.
Se priorizarmos focar no que falta, deixaremos escapar entre nossos dedos o milagre e o deslumbramento de estarmos vivos. Mas é apenas a minha opinião.