A História do Trabalho
Quando observamos um guepardo identificando, escolhendo, espreitando, correndo atrás da presa e abatendo-a, ou um executivo, um médico, engenheiro, ou um servente de pedreiro exercendo a sua atividade profissional, nada mais são do que mamíferos exercitando o ofício básico de todos os seres vivos: garantir a sua sobrevivência.
A partir deste ponto de vista básico, ao deslizar a atenção sobre a história da atividade laboral do Homo sapiens desde a pré-história, acompanhando as profundas modificações sofridas pelo trabalho em 130 mil anos de aprimoramento da espécie, compreende-se a intrincada rede de necessidades hominais, que vai muito além da pura e simples sobrevivência. Além de buscar incessantemente o que comer, dormir e vestir, a vida humana contemporânea exige reconhecimento, conforto e status, o que demanda muito mais esforço e aptidões de todos nós.
Na pré-história, o trabalho consistia em garantir a sobrevivência do grupo, conseguindo o alimento necessário e construindo as estruturas habitacionais e de convivência.
Já na antiguidade, nas sociedades civilizadas, à medida que as relações sociais ficaram mais complexo, o trabalho passou a ser dividido de acordo com as diferentes funções necessárias à manutenção do modo de vida padrão de cada grupo cultural. O homem trabalhava para produzir o que consumia: roupas, alimentos ou moradia, e era recompensado por mercadorias (escambo), como uma espécie de troca.
É importante mencionar a escravidão como força motriz que moveu a economia do mundo antigo. A escravatura foi comum na antiguidade em todo o mundo, a partir do momento em que o crescimento populacional numa região levou à introdução do conceito de propriedade e, consequentemente, de conflitos para assegurar a sua posse.
Nas guerras era comum os vencidos, subjugados, tornarem-se propriedades dos vencedores, transformando-se em força de trabalho ou escravos.Estes cultivavam a terra, realizavam todas as tarefas domésticas e intelectuais conforme a sua formação, além de participarem das guerras.
Outro fato curioso era o regime de servidão coletiva, que predominava no Egito, onde todos eram obrigados a trabalhar para sustentar o faraó, ou pagavam tributos na forma de bens para o Estado. As principais atividades econômicas exercidas no Egito eram a agricultura, criação de animais, comércio externo e forjamento de metais. Para construir as pirâmides e grandes obras hidráulicas como canais de irrigação e represas, fundamentais para a agricultura, o faraó submetia toda a população.
Enquanto a produtividade ainda era baixa, e todos viviam próximos ao nível de subsistência, inexistiam classes sociais ou diferenciações hierárquicas. Contudo, a distribuição sempre mais aperfeiçoada das tarefas, combinadas com instrumentos de trabalho mais sofisticados, propiciaram maior produtividade, que possibilitou ao menos para uma parte pequena da sociedade, livrar-se do fardo do trabalho cotidiano. O trabalho de um número mais restrito de pessoas rendia o suficiente para sustentar a sociedade em conjunto, mantendo o nível habitual de vida da coletividade ou até mesmos níveis mais elevados. A atividade laboral adquiriu um conceito demeritório, onde pessoas de condições inferiores passam a ser destacadas para isto.
Uma pequena parte pequena da população passou a ser liberada do trabalho físico de subsistência, para exercer a mais alta de todas as atividades humanas: o exercício das idéias.
Na Idade média surgiu a hierarquia feudal, onde o servo trabalhava na terra do senhor feudal e recebia proteção, alimento e vestuário para sua sobrevivência. As atividades necessárias à manutenção da sociedade continuaram exercidas pelas classes baixas, enquanto aqueles que detinham melhores padrões de vida dedicam-se aos esportes, estudos, bem como aos cargos de governo.
Na Idade moderna, com a revolução industrial, o trabalho torna-se uma necessidade, onde o homem passou a alugar seu tempo por dinheiro. Nesta época, criou-se a mentalidade de que o trabalho dignifica o homem e é parte inerente de sua natureza. Uma grande quantidade de pessoas em toda a Europa foi retirada do campo e mobilizada para o trabalho nas indústrias, realizado com jornadas semanais, salários e outras garantias.
O início do período contemporâneo foi marcado pelas mesmas características da época anterior. No entanto, quanto mais o trabalho aproximou-se do século XXI, surgiram teorias sobre o trabalho realizado com prazer, para o aumento da produtividade, da criatividade e principalmente da realização pessoal. Atualmente as pessoas buscam em primeiro lugar as condições financeiras que determinadas atividades laborais podem proporcionar, em seguida, o prazer com que podem desempenhar tais funções. Existe um foco de muita preocupação com o status proporcionado pela profissão. Também ocorreu uma democratização do trabalho, com um espectro que incluiu todas as castas sociais.
Mudanças no trabalho
O mundo do trabalho passa por um momento de grandes transformações. Sirgem todos os dias modelos de estrutura organizacionais cada vez mais flexível e mutáveis, absorvendo mudanças tecnológicas que exigem um profissional que reinvente-se diariamente, crie polivalência e amplie seus horizontes culturais para muito além da sua área de formação. O capital intelectual é um ativo precioso das organizações e novas idéias e inovações são a moeda mais importante do terceiro milênio.
O trabalho tornou-se mais do que apenas sobrevivência. Bilhões de pessoas dedicam 1/3 do seu dia, durante mais de trinta anos de suas vidas, na realização de alguma tarefa pelo qual recebe algum tipo de remuneração. Este tempo é precioso, irrecuperável e precisa ser bem usado. Todos estes bilhões de pessoas encontram-se, na sua grande maioria, dentro de organizações, que na busca de uma maior produtividade, tem como um dos maiores desafios, tornarem a atividade laboral muito mais satisfatória para seu corpo de colaboradores. No Brasil, as estatísticas demonstram que mais de 70% das pessoas não estão felizes no seu ambiente de trabalho.
Uma nova visão
– Porque nos sentimos tão infelizes em um ambiente que nos oferece tantas oportunidades e possibilidades?
Embora não seja o único, um dos motivos, sem dúvida é a visão que temos do trabalho. Ou seja, independentemente da modalidade laboral que exercemos, se foi um ato de escolha ou aparente fatalidade, uma boa parte da satisfação que obtemos do que fazemos advêm da maneira como interpretamos nosso ofício: não é o que se faz, mas o modo que se vê o que se faz é que importa.
Nos parece que o trabalho e a forma como nos relacionamos com ele é um espelho de quem somos. A partir deste ponto de vista, ele torna-se uma fonte de auto-realização, autoconhecimento e auto-estima. Esta percepção altera radicalmente nosso comportamento laboral, deslocando-se da passividade para a pró-atividade, identificando e solucionando problemas e tomando para si a responsabilidade de influenciar o mundo nossa volta.
O valor do trabalho
Um dos mecanismos que facilitam a mudança de percepção do trabalho é saber qual é o impacto social da profissão que se escolheu. Afinal, toda e qualquer ocupação, pelo simples fato de existir, é importante, pois preenche as necessidades de algumas ou muitas pessoas. Caso contrário, ela desaparece gradualmente, até ninguém mais exercê-la.
Outra visão que provoca uma modificação de entendimento do trabalho é saber como ele expande nosso conhecimento sobre si e o mundo que nos rodeia. O trabalho pode e deve tronar-se a grande aventura do autoconhecimento, transformando o tempo que se passa um terço da vida em um laboratório de auto-observação e auto-aprimoramento.
É disciplinar, por exemplo, a atenção para fazer tudo bem feito da primeira vez, todos os dias, transformando o trabalho, seja qual for ele, uma prática evolutiva. Daí, queremos oferecer a nossa humilde definição para trabalho como a relação entre o nosso valor (consciência plena das nossas qualidades, habilidades e talentos pessoais) e a maneira como utilizamo-lo para influenciar no mundo a nossa volta.
Uma história
O grande violinista contraiu pólio na infância, e desde então vive numa cadeira de rodas. Em certa ocasião, estava dando um concerto de violino quando, com um som audível, uma das cordas partiu-se no primeiro movimento. Todos esperavam para ver o que ele faria.
Com surpreendente virtuosidade, ele continuou como se nada tivesse acontecido, tocando até o final apenas com as três cordas remanescentes. Os aplausos, quando terminou o concerto, foram ensurdecedores, não somente por seu desempenho como também por seu sangue frio em continuar, imperturbável. Quando o barulho recrudesceu, ele foi chamado a dizer algumas palavras para a audiência. Sentado em sua cadeira de rodas, um símbolo vivo de coragem, ele disse apenas uma frase: “Nosso trabalho é fazer música com aquilo que resta.”
Abençoada seja a profissão de Instrutor do Método DeRose.