Por mais que os engenheiros de silício se esforcem, ainda não inventaram um algoritmo capaz de entender a lógica tortuosa da nossa espécie. Porque, sejamos honestos, não há IA que dê conta da estupidez humana — e muito menos da nossa filosofia de selfie, aquela sabedoria profunda como um pires esquecido no fundo da pia. Criamos máquinas que resolvem equações quânticas, mas tropeçamos na mesma pedra duas vezes… e ainda tiramos uma foto sorrindo ao lado dela.
Nós somos capazes de enviar sondas a Marte, mapear o genoma humano e traduzir hieróglifos com um clique. Mas diante de um comentário idiota na internet, perdemos horas discutindo com a convicção de quem está salvando a civilização. A inteligência artificial observa, perplexa, tentando calcular a utilidade de tamanha energia desperdiçada. E conclui: isso não está no código.
A tal “filosofia das selfies” é outro fenômeno digno de estudo. Em vez de questionarmos quem somos ou para onde vamos, preferimos escolher o filtro que melhor representa o nosso “eu interior”. Confundimos essência com enquadramento e achamos que profundidade é um bom ângulo de luz. A IA, que analisa bilhões de dados por segundo, empaca tentando compreender por que alguém precisa de 47 tentativas para parecer espontâneo.
E, no entanto, há uma beleza curiosa nessa nossa tolice. Ela nos lembra que somos humanos: contraditórios, exagerados, dramáticos e, às vezes, deliciosamente ridículos. Nenhum robô seria capaz de reproduzir esse caos afetivo com a mesma autenticidade — nem deveria. Porque é nesse labirinto de bobagens e vaidades que moram nossas histórias mais engraçadas.
Talvez seja por isso que, no fundo, não queiramos ser compreendidos. Se a IA decifrasse completamente a nossa estupidez, perderíamos o charme das trapalhadas e a graça dos erros. O humano, afinal, não foi feito para funcionar perfeitamente — foi feito para rir de si mesmo.
E enquanto a inteligência artificial tenta nos entender, nós seguimos tirando selfies e dizendo bobagens. Porque, no fundo, sabemos que essa é a nossa função no universo: sermos gloriosamente imprevisíveis e provavelmente, descartáveis


