O tempo não é bom nem mau. Não faz drama, não justifica, não responde. Só vai. E nós, coitados, seguimos tentando negociar com ele — como se ponteiros tivessem alma ou compaixão. Fazemos dele vilão, herói, carrasco. Mas ele só passa. Sempre passou. E essa talvez seja a parte que mais fingimos não entender.
Acordamos todos os dias cheios de fé em um tal de “mais tarde”. Um mito moderno. Mais tarde começo. Mais tarde mudo. Mais tarde digo. E nessa ciranda ilusória, deixamos o agora escapar pelas frestas da agenda. Ocupados com o nem sempre sabemos. Mas seguimos correndo. Vai ver é por medo de parar e descobrir que estamos atrasados… para nós mesmos.
Olhar para as nossas prioridades com honestidade deveria ser matéria obrigatória na escola da vida. Não exige velocidade. Exige coragem de admitir que há muito sabemos o que importa, mas deixamos quieto. Vai que incomoda. Vai que muda. Vai que exige de nós alguma maturidade emocional.
Curioso como o tempo, esse velhinho impassível, costuma abrir atalhos para quem caminha com foco. Não é sobre apenas gerir a agenda. É sobre saber o que é prioritário antes de responder o WhatsApp. Quando a prioridade é genuína, até o relógio parece colaborar. Quase mágico. Ou só mais um efeito colateral da consciência.
A verdade é que não há receita. Nem aplicativo. Só um convite: trocar o modo automático por um olhar mais atento. Parar de viver como check-list ambulante. Trocar o barulho do urgente pelo silêncio do importante. Parece pouco. Mas move mundos.
Claro que podemos continuar acumulando compromissos como quem coleciona boletos. Mas também podemos experimentar o outro lado: fazer menos, com mais clareza do que realmente importa. Escolher melhor. Dizer não com mais frequência. A agenda agradece. O corpo respira. E a vida — essa danada — sorri.
E talvez, só talvez, ao escolher o que realmente vale, o tempo nos ofereça o que há de mais raro: a sensação de estar, enfim, no nosso melhor ritmo. Mesmo que ele continue, impassível, só passando.


